SINCERO OU RÉU CONFESSO?
Andrés Sánchez termina o seu mandato no Corinthians no início do ano que vem e já tem como indicação para assumir o cargo, Mário Gobbi; mas sobre o futuro no futebol, nada de indicações. Ele teria prometido estrutura e base para o clube e deixou 75% ou 80% das coisas prontas, com os ganhos por ano sendo maiores que as dívidas – que são, no geral, na casa dos 150, 160 milhões de reais.
O mandatário corintiano voltou a defender Ricardo Teixeira, dizendo que as pessoas pegam pesado com o presidente da CBF. Segundo ele se fala muita coisa, mas não se prova nada, mesmo admitindo que na entidade há problemas, “como em qualquer lugar”.
O atual homem-forte de Ricardo Teixeira nos clubes disse o seguinte:
“Eu acho que ele foi muito importante pro futebol brasileiro, com erros e acertos. Eu acho que tão pegando muito no pé dele sem provas. Acho que aqui nesse país ainda temos que acreditar na Justiça, nos órgãos públicos e que se tiver alguma coisa que se fale logo. Não pode ficar dez anos batendo numa pessoa, insinuando e ninguém provando nada”.
Ainda bem que este ano algumas denúncias vêm acompanhadas de provas, em especial após a famosa entrevista de R.T. Para a revista piauí em julho. O procurador da República Marcelo Freire remeteu na segunda-feira (26/09) à Superintendência da Polícia Federal no Rio um pedido de abertura de novo inquérito contra Teixeira para saber se o dinheiro recebido, segundo denúncia do jornalista Andrew Jennings, teria vindo ao Brasil de forma irregular.
SUBSTITUTO
Já tratamos aqui na Além das Quatro Linhas antes, mas Andrés Sánchez é um dos favoritos a assumir o lugar de Teixeira na presidência da CBF a partir de 2015 – se não ele, Joana Havelange.
Perguntado se sonha em ser presidente da CBF, Sánchez não descartou a hipótese, apenas desconversou dizendo não pensar nisso agora até mesmo porque ainda falta tempo para o processo eleitoral da entidade, apesar de se colocar à disposição do futebol no que precisar.
ESTÁDIO E RELAÇÕES POLÍTICAS
Andrés afirmou que jamais prometeu construir estádio, por ter sido enganado há 50 anos com essa história. Porém, eis que surge um projeto com a Odebrecht – quantas obras mesmo a empresa participa nesta Copa? E, falando em São Paulo, esta mesma empresa participa do Consórcio do Metrô Linha 4 (Linha Amarela) – aquele mesmo do buracão de 2007!
O presidente corintiano é claro ao dizer que quando o Morumbi foi vetado, a responsabilidade do clube era com o que tinha programado, os R$ 400 milhões por 44 mil lugares. O resto para a abertura? “Era um problema da cidade”. Se não fosse isso, “com certeza estaria mais adiantado do que está hoje e não teria também a renda que vai ter, é uma coisa muito grande”.
Marília Gabriela até tentou por algumas vezes que ele admitisse que seriam gastos recursos públicos. Sobre o empréstimo no BNDES, ele disse que pagará juros e que “qualquer brasileiro pode fazer isso” - qualquer um mesmo? No caso da ajuda municipal, seria só um documento. Balela; relações assimétricas e apelo eleitoral corintiano.
Vejamos as peripécias que teriam de ser cumpridas na busca de um critério universal. Primeiro ele terá que construir o estádio e gerar receitas, o que deve demorar cinco anos, para depois, na hora da arrecadação, tirar 200 ou 300 milhões de reais nisso. Ele disse também que as multinacionais vivem ganhando isenção fiscal porque geram empregos, e nem sempre geram os prometidos.
Sobre as relações com a política, disse que a experiência no comando do Corinthians o fez desistir de qualquer possibilidade eleitoral, mesmo sendo filiado ao Partido dos Trabalhadores (!). Ele já conhecia a o pessoal do PT “faz tempo”, mas teve que lidar com mudança de governador e que esse processo seria a prova de que “o Brasil deveria se unir mais”.
Apesar da relação com o PT, já que foi sindicalista e a família vivia em sindicato, o nome do estádio não será Luiz Inácio Lula da Silva, mas de quem pagar mais para tê-lo. Os naming rights estão na engenharia financeira para pagar o estádio.
400 milhões de reais é o valor mínimo pedido por 15 ou 20 anos. Apesar de ter algumas propostas, ainda depende da resolução de outros problemas com alguns “amigos”:
“Tem alguns problemas com a Rede Globo, que é a detentora do futebol brasileiro e nós temos que ser justos, ela não pode ter os parceiros dela no futebol e eu trazer um parceiro que ela tem que falar que entre em conflito com os patrocinadores dela. Em 4 ou 5 meses acho que se sabe”.
Segundo o próprio, tal situação o ensinou “a nunca ser político. Após o preconceito que passei por ser presidente do Corinthians eu não aceitaria me candidatar”.
IRONIAS E SINCERIDADE
Nem precisava ele ter dito que é muito sincero e paga um preço muito caro por isso. Afinal, quem teria coragem de dizer que é “amigo do pessoal da Globo, apesar de gângsters”? Na entrevista, chegou a pedir desculpas aos jornalistas pela estupidez dos últimos meses, já que estaria farto das cobranças e pedidos:
“Muitos corintianos só sabem pedir”.
Sobre uma suposta perseguição por sua formação escolar, Sánchez é claro ao dizer que:
“Eu não me sinto perseguido, eu me sinto discriminado, o que é pior até. Por não ter ensino superior, não falar o português correto. Talvez por ser um cara sincero, um cara direto, às vezes pago um preço muito caro. É um país hipócrita, quer dizer, é um país com pessoas hipócritas”. Em suma, Andrés é curintia....e a Odebrecht, também é parte da “Fiel torcida”?!
Andrés Sánchez ironizou o presidente da FIFA Joseph Blatter sobre as críticas no atraso das obras. Segundo Sánchez, Blatter conhece o Brasil assim como ele conhece Marte. Garantiu que se São Paulo não abrir a Copa do Mundo FIFA 2014, a mesma será aberta na Alemanha ou em Marte:
“Não (tenho conhecimento sobre outros estados). Só batendo. Belo Horizonte e a Bahia ficam dizendo que vai ser lá e não têm condições. (Vai ser na Alemanha) ou em Marte. Como é que a Bahia quer fazer abertura de Copa, se São Paulo tem problemas imagina a Bahia”.
MAIS SINCERIDADE SOBRE A COPA
Quando questionado se a Copa seria realizada com puxadinhos, Andrés respondeu que sim, já que foi desta forma na Alemanha, no Japão e ainda mais na África do Sul.
Um dos grandes problemas de infra-estrutura no Brasil, os aeroportos receberam menção especial:
“Tem que fazer, de zero a dez, dez. Não vai fazer, vai fazer sete, seis, e dois e três vai ser puxadinho de 60 dias. Em todas as Copas teve. Obviamente algumas coisas vão ser adiantadas e outras coisas vão fazer puxadinhos. Eu não vou ser hipócrita e dizer que vai estar 100% perfeito. Vai funcionar, mas vai ter puxadinho”.
DINHEIRO
Andrés sai do Corinthians, deixando o clube com o sexto maior contrato de material esportivo do mundo, com a NIKE (entre 22 e 40 milhões de reais), e o quarto maior patrocinador de camisa, com a Hypermarcas, algo que gira em torno de 60-70 milhões de reais.
O atual presidente corintiano negou que fosse sócio de Ronaldo em algo, apesar de ser consultor da 9ine (e???), e disse que seria algo em qualquer coisa que o Fenômeno chamasse. Além disso, prometeu que R-marketing-9 voltará a campo em 2013, quem sabe para inaugurar o estádio corintiano e se despedir oficialmente do clube, o qual mudou o patamar financeiro.
DE SAÍDA (TEMPORÁRIA?)
Andrés disse ainda que está há 20 anos nas categorias de base do clube. Além disso, apesar da sinceridade que nós da Além das Quatro Linhas tanto gostamos, vale lembrar que foi diretor de Alberto Dualib e um dos responsáveis pela entrada da MSI, leia-se Kia Joorabchian e Boris Berezovsky, ao clube. Memória pouca é bobagem; é o padrão da transição política no Brasil, vale em clube, vale na república.
Trata-se da velha tentativa de atrair investidor estrangeiro, receber o dinheiro e depois dar um pé neles, como aconteceu em inúmeros casos durante a década de 1990 – a defunta ISL foi um dos alvos. É o jeitinho brasileiro do mandonismo, o jeito “oligarca” das direções de clube no Brasil, que enfrentaram e venceram até as multinacionais de marketing esportivo.
Ele até pode não ter ganho a Taça Libertadores, mas deixa a construção do estádio encaminhada, outro grande sonho de todo corintiano. Além disso, abriu o caminho para que ser sincero, mesmo apontando coisas ruins dos “amigos”, seja uma marca dos principais dirigentes brasileiros. Ricardo Teixeira até o seguiu em julho, mas depois se calou. Daí que de bico aberto, abriu-se a porteira para processos e construção sem fim de uma seqüência de fatos midiáticos resultando em fatos políticos e até judiciais. Depois, O Imperador se calou. Que pena.
Fonte: Estratégia&Análise.com
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