O escândalo envolvendo Djalma Beltrami é assustador.
As acusações são pesadíssimas.
Mas não atingem só o tenente-coronel.
Destroem a imagem do árbitro.
Juiz que representava o Brasil na Fifa.
Trabalhava nos principais jogos do País.
Se ele enganou a Polícia Militar, não seria barrado por quem comanda a arbitragem no Brasil.
Em espetáculos envolvendo milhões como uma decisão de campeonato, todos são profissionais.
Jogadores, treinadores, policiais, cachorros de policiais.
Menos os árbitros.
Eles são amadores.
No significado mais tosco da palavra.
Precisam trabalhar em um emprego absurdo que permita ausências constantes em viagens.
Por isso, a grande maioria é representante: vendedor mesmo.
Faz seu horário.
E depende do que recebe como árbitro.
Não só para completar a sua renda.
Mas são dos jogos que garantem a maior parte do seu ganha pão.
Seu e da sua família.
Ou seja: ficam à disposição, desesperados pela escala.
Para ser escolhido entre os que merecem trabalhar, não basta ser árbitro.
Há a necessidade de fazer política.
Conhecer os homens poderosos das federações.
Da Comissão de Arbitragem.
Da CBF.
Árbitro de destaque no Brasil é amador, dependente e político.
É o grande sacrificado no universo do futebol.
Mas com o esquema amador, montado de propósito por clubes e federações, existe o outro lado.
Basta ser um bom árbitro e saber fazer política que até o Chico Picadinho pode apitar.
Não há mesmo uma investigação frequente para saber da vida financeira de cada um.
A Federação Paulista afirma que pede para ver se o sujeito tem 'nome limpo'.
Não está no Serviço de Proteção ao Consumidor.
E pronto, deu.
Quem sabe como é a vida financeira de verdade de um grande árbitro.
Não estar no SPC é pouco.
Ele pode ter dividas enormes ou enriquecer de forma suspeita que ninguém saberá.
Basta saber fazer.
Ser discreto.
Ninguém investiga ninguém.
O importante é fazer poítica.
Depois que esse árbitro entra na panela, acabou.
Trabalha enquanto a sua idade permitir.
O que faz de sua vida particular...
Se está desesperado, sujeito a propinas...
Ou se é mesmo um pilantra...
Ninguém vai saber.
Não há interesse ou competência de quem comanda o futebol no País.
Escrevo esse post de Zurique, Suíça.
Estou voltando do Japão.
E já vi na televisão local reportagem mostrando que árbitro brasileiro comanda esquema de propina.
Exigir dinheiro de bandidos do Morro da Coruja.
O apresentador destaca duas palavras: árbitro e brasileiro.
Passo vergonha sozinho.
Penso até quando a arbitragem no país será assim, amadora?
Largada de propósito nas mãos dos poderosos?
E sujeita a que qualquer pessoa coloque o emblema da CBF ou até da Fifa no peito.
Qualquer pessoa um.
Desde que saiba apitar e saber agradar quem manda.
Dar presentinhos de Natal.
E ter certeza de que não morrerá pagão.
Não há um ranking profissional, transparente entre os árbitros.
Há os que conseguem agradar aos presidentes de Federação, aos presidentes dos clubes, da CBF.
Se entram na panela e ficam anos trabalhando à vontade.
Sem ninguém ter a menor idéia de quem sejam de verdade.
Agora só resta lamentar.
Jurar que tudo vai mudar.
E nada fazer de verdade.
Outra vez...
Fonte: Blog do Cosme Rímoli
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